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domingo, 18 de maio de 2008

O meu "João Ratão e Carochinha"

Era uma vez dois gatos felizes
e velhas matrizes dos contos de fadas:
Ratão e Carocha, assim reza a história.

D. Ratão, velho ninja de ratos, tinha com a história velhas contas a ajustar...
Farto de ser ninja de ratos, transformou-se em samurai:
aquela velha ratazana, gorda, nojenta, cruel que só vive de dejectos e em velhos canos de esgoto, era quem o atentava... zás, catrapás, trás... e era assim que a matava.
Em casa tinha comida, água fresca sempre pronta e uma casa-de-banho hermeticamente fechada aos cheiros nauseabundos que tanto ele detestava. Aqui, só ia e vinha:
ZZZzzz... areia p’rà frente, areia p’ra trás, covinha no meio... já está! Tapar, tapar com
areia... que é a terra que lá há...
Era pois já D. doméstico. Velho Ratão aprumado no seu fatinho de gala, com as pernas bem esticadas, viajava pelas ruas e p’los campos que cá há! Sempre todo perfilado, de coleira a retinir, ela vê-lo repetir todos os dias a velha história de gato educado: é um carro que ali vem... “pára, ouve e olha sempre e só quando pressentires que já não há mais perigo, é que atravessas então”... era assim o João Ratão.




Sobre a Carocha felina, muito tenho p’ra contar: da raposa, tem o olho e a sabedoria de instinto que a levou a adoptar como mãe o João Ratão. É que esta gata Carocha tem de menos oito meses que o irmão João Ratão (que o foi de mãe, pois então!)... Ao olhar o João Ratão, tão meigo e tão samurai, não é que não viu o pai mas a mãe que lhe faltava!... Era só uma Carochinha de três semanas ainda...
O Ratão, bem mais felino – e doce, que os gatos o são também -, deu-lhe a pata p’ra mamar e a Carocha aproveitou. E era assim que dormia e, enrolada, adormecia no colo do João Ratão. Cresceram logo irmanados e quando a um acontecia ter de ir ao veterinário por qualquer coisa que havia, logo o outro em seu redor lhe aconchegava as feridas: lambidela... devagar... massagem de amor... também... e eram já dois irmãos que a vida quis juntar!
Para gáudio dos meninos que aqui me estão a ouvir, fiquem p’ra já a saber que estão bons e de saúde e se amam tal e qual como samurai e donzela... Ela é meiga; ele, outro tanto. Se um ronrona, o outro cala; um refila e é a dona que lhe dá logo resposta: “Calado, já! E beijinho... aí na sua gatinha que é a mais bela companheira que cá lhe pude arranjar”... E não é que eles se calam e tecem logo beijinhos e cadeias de ternura e ronronam de mansinho e arrulham e arrulham... É uma alegria p’ra mim Ter cá dois gatos assim!
Houve um dia, aqui há tempos, que tive de os mandar castrar. Chorei muito... um inferno... ver dois gatos passear pelo corredor da dor (é que a doença é feroz, tão selvagem e dolorosa, tão nos corredores da morte que a única boa sorte que podemos desejar é que o tempo aqui actue e os salve da doença...) A doença lá passou e a dona serenou e o gato ronronou... com saúde e muita fome, ficaram ainda mais fortes.
Houve outros dias também de dor e de incertezas:
Vem o gato p’ra dormir? Está calado... estará bem? Não quer festas ... não ronrona... não diz nada... está zangado... já fugiu da sua dona... e foi “prender o burrinho” ali p’ra baixo da cama...
Está bem! Olha, paciência! Quando lhe passar a dor de Ter de ser educado – não p’la dona, mas p’la rua, onde também é ensinado – talvez perceba depois!... É que os gatos e os meninos são mesmo iguais, iguaizinhos... Querem ver outra?
“Quantas vezes eu lhe disse, ó sr. João Ratão, para não confiar em cães, nem em donos de outros gatos, nem na noite tão sozinha só povoada de gatos, mas de gatos tão vadios que só o insultam também? Hein?!... Não fica melhor em casa? ... Quer papas? Vou-lhas buscar!... Quer dormir? Vá passear pela casa, seu malandro e veja lá se adormece!...”
Esquece então o seu “rato” e o velho cão vadio e os velhos ninjas de gatos que gritam noites a fio a imitar as crianças, chorando pela noite fora... e lá se aconchega no sono.
Há tempos ouvi a história destes meus gatos felinos, contada como em passado a avó contava aos meninos:

“Era uma vez / uma linda Carochinha / que encontrou 7 reis / quando varria acozinha…
(…)
Ai Coitadinho do João Ratão / cozido e assado no caldeirão!”

Eu já podia ser avó e gosto de escrever contos para os meninos encantar… É que eu tenho uma criança aqui guardada no peito que fala sempre, certeira, ao ritmo do coração... Vivo feliz e contente e porque tenho dois gatos que são os mais educados e os mais belos que existem no mundo e no universo, é que eu hoje decidi reescrever aquela história recontada pela avó...


Oiçam lá! Acham bem aquele final? Mas que grande caldeirão, mas que grande caldeirada, mas que grande marmelada que ali puseram de propósito só p’ró pobre do Ratão lá mergulhar, coitadinho, e deixar a Carochinha toda chorosa no altar!... Acham isto bem? Digam lá!... Eu não. O meu gatinho Ratão e a gata Carochinha só gostam da comidinha que é própria dos gatos já... e felizmente p’ra mim, senão andava p’ra sempre com o meu pobre coração a espreitar o caldeirão sempre que o gato fugia ou decidia dormir aninhado na Carocha, lá no sótão onde namoram... Cá p’ra mim já lhes sonhei o final da história: “casaram e foram muito felizes”, que é assim que eu gosto dos contos de encantar.



E a propósito de encantar... Conhecem o “Gato das Botas"?




















É primo do meu Ratão... também gosta de ajudar e como devem saber fez mais ele pelo dono que todos os seus parentes: com as botas, fez-se um homem; a falar, fez-se um farsola e porque sabia sempre aquilo que precisava, inventou o seu Marquês e por matar o ratinho do medo que lhe causava o ter de viver sozinho, enfrentou com dignidade a sua bela princesa, casou com ela e viveu a sua história de gatos. Dizem que foi um nababo nos anos que lhe sobraram. E digam-me lá vocês qual deles era mais gato? O próprio gato das botas, com botas humanas calçadas ou o “gato do moleiro”, tão marquês de Carabás na sua pose de príncipe que ronronou casamento logo à sua “Carochinha”, à princesa do Ratão? Qual dos três gatos preferem? Escolham um ou então os três.


Miaouhs e ronrons para todos os meninos e xis do coração também...

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