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domingo, 28 de dezembro de 2008

A morte saiu à rua...


Luto por uma pedagogia que não se esqueça que os rios susurram, que as aves gritam..., escreveu o professor, antes de encontrar a morte que saira à rua... Está num "post" do blogue Profavaliação, de que aqui deixo o link, bem como o da canção do Zeca Afonso que esse texto me fez recordar. Sobre o resto, não falo. Está tudo no texto de Teodoro Manuel e na letra da canção do Zeca Afonso.
http://www.profblog.org/2008/12/nossa-pedagogia-esqueceu-que-os-rios.html

http://www.youtube.com/watch?v=2yZkC3YCU20

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O que é um Professor?


Eduardo Lourenço define de uma forma simples e definitiva (para mim) o que é um Professor: o paradigma do cidadão útil e consciente de uma sociedade.

Numa altura em que tanto se fala deste grupo social é altura de o (re)definir, para que se saiba do que se fala quando se fala. E não há nada como ouvir quem está (de) fora, quem sabe, quem (se) pensa e quem não tem quaisquer interesses nas polémicas recentes, a não ser o de pensar o mundo e nos facilitar a vida pelo exercício do seu pensar. Como professora, fiquei-lhe mais uma vez agradecida por esta prenda de Natal.

Obrigada pela prenda, querido Professor! Quando for grande, também quero ser assim...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Avaliações simplex de cotas...

Às vezes passa-se uma vida à procura da simplicidade (perdida?)... Tome-se uma criança em condição natural (amada e protegida pela "mãe") e surpreendamo-nos com a rapidez e beleza das suas aprendizagens: a gatinhar, andar, correr; a balbuciar, palrar, falar... Disse falar?!... É aí mesmo que quero chegar: não há criança que se não expresse em "poesia", com "metáforas" de descoberta permanente da necessidade de comunicar com quem a rodeia (a ama, claro!) e não há criança que se não revele "cientista": porquê, mas porquê...? Pobre professor-"mãe"! Que canseira tantos porquês e quanta admiração pelas descobertas que essas perguntas anunciam!... A "simplicidade de alma" é, por vezes, "chata" para quem "não está nem aí"!... Tenho revisto na RTP2 algumas conversas com o professor Agostinho da Silva e sinto-me reconciliada com o mundo! Tão perto e tão longe dele, mas... mesmo quando longe - o mesmo emaravilhamento pela "simplicidade" das soluções que apresenta: um adulto devia ser sempre um "sábio". Como ele. Quando eu for grande...

(mais prosaicamente e aqui que ninguém nos ouve: aqueles "sistemas de avaliação" muito complicados, muito complicados, tão complicados que apetece dizer logo "olhe, falou tão bem, que não percebi nada!", só podem estar errados! Continuo fiel ao Chomsky e à sua "Gramática Universal": sistema simples, capaz de explicar todas as línguas conhecidas, mas - claro! - com uma capacidade descritiva dependente ainda e muito e talvez sempre de cada "professor"... O que parece complicado pode ser bem simples... se houver uma "mãe", um "professor", um "sábio", uma "criança" que no-lo apresente com "amor" (ou sentido de "serviço", que é igual...), para sermos felizes (porque precisamos, gostamos, vai ser uma surpresa, nos vai convocar o silêncio ou a linguagem da "poesia", que pode ser um xi-coração bem apertadinho, bem apertadinho, obrigada, amo-te...).
Outra vez prosaicamente e aqui que ninguém nos ouve, aquela questão das "quotas" por mérito para professores, para mulheres em cargos políticos, etc..., parece-me um grande absurdo! Mas pode haver "quotas de mérito", antecipadamente subordinadas a percentagens?!... Então, não há mérito ou está-se a definir o "mérito", complicando e adulterando o que toda e qualquer criança sabe o que é... Mérito não é "mérito", é um somatório de "cargos", de...., 30, 40, os que forem precisos cursos de formação das "CEEs", etc., o que "dá jeito" às "finanças" da "nação"!!!... Porquê "mulheres" na política? São melhores que os homens? Querem esses cargos? Porque não "pretos", "amblíopes" ou outras minorias "silenciosas"? Como cidadã, nunca fui melhor "servida" por mulheres: se às vezes o fui, foi porque quem me "atendeu" estava "ao serviço" e não "a servir-se" de um "cargo"... Não, não gosto destas "quotas": "quotas de cotas")

E agora uma história "exemplar" de professores "cotados" (quotados?):
perante uma tese de mestrado a que tinha dado "Bom", a arguente quis justificar à mestranda o porquê de não atribuição de nota máxima: "O problema principal é que se valeu da sua facilidade de escrita para escrever uma tese que se lê como um livro... vê-se que não demorou tempo, que não analisou o suficiente...". Admirada, a aluna /mestranda/mestre só conseguiu balbuciar: "Mas a Professora quer que lhe traga as 500 páginas iniciais da tese que tenho em casa, onde está feita toda a análise que aqui lhe sintetizei em 100 páginas?!... Foi 1 ano para redigir 500 páginas de análise e mais 1 para sintetizar e simplificar a linguagem, em 100..." Resumindo e concluindo, a tese estava simples, mas não simplex e por isso não entrava nas quotas dos cotas... Sim, que às vezes a gente também se chateia!... Sobre "avaliações simplex" e "quotas de cotas", estamos conversados... Vou arranjar umas ilustrações simples e carinhosas ... Quando eu for grande...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

"Oh Portugal, hoje és nevoeiro..."

Quando era miúda, adorava este feriado: era "Dia da Mãe". Depois que foi transferido para o último domingo de Maio, o 8 de Dezembro foi ficando esvaziado para quem não tem uma prática católica, o que é o caso. Acontece que acabo por ler jornais e etcs e tais e quando dou por conta já estou quase a tiritar num inverno de alma: “jogos estratégicos”, “paraísos artificiais”, novas "dinastias" ... É melhor não explicitar nem especificar mais nada: peço emprestada a palavra ao poeta e lá desabafo um pouco.

Os medos

É a medo que escrevo. A medo penso.
A medo sofro e empreendo e calo.
A medo peso os termos quando falo
A medo me renego, me convenço

A medo amo. A medo me pertenço.
A medo repouso no intervalo
De outros medos. A medo é que resvalo
O corpo escrutador, inquieto, tenso.

A medo durmo. A medo acordo. A medo
Invento. A medo passo, a medo fico.
A medo meço o pobre, meço o rico.

A medo guardo confissão, segredo.
Dúvida, fé. A medo. A medo tudo.
Que já me querem cego, surdo, mudo.

José Cutileiro Os medos, in Versos da mão esquerda, 1961.


ROMANCE DE REI HIPOTÉTICO

Na Tichunlândia há um rei
(se não há, podia haver)
que tem um iate de oiro
para nele se meter;
milhão e meio no bolso,
vinte milhões a render;
cem donzelas das mais lindas
pra amar a seu bel-prazer;
e um cadillac espanhol
(se não é, podia ser).
Muito mais tem esse rei,
muito mais podia ter.
Quem vai à frente da fila
não espera pela vez
e faz do tempo um cavalo
que monta conforme quer.
Dizem os bicos redondos
que andam na órbita dele
que tem uma inteligência
(se não tem, podia ter)
que penetra os escaninhos
mais recônditos do ser.
Milagre do sangue azul!
Oh prodígio do saber!
Oh fonte de sapiência
que não cessa de correr!
Um dia vieram reis
(mais viriam) para o ver,
estrela de ânsia na testa,
ansiosos de o conhecer.
Que o sol nele se desfolhava?
Como conseguia ele
a paz nas suas cidades,
há trinta anos e um mês?
Que serafim o giava?
Como consegfuia ele
não ter dentro do seu reino
um inimigo sequer?
Vejam ora o sucedido
(ou podia suceder).
Num opíparo banquete
(desses que está sempre a haver,
com ideias luminosas,
sem nenhuma luz se ver)
o rei que nunca aparecia
resolveu aparecer.
Oh! - disseram os que enchiam
o salão de lés a lés.
Cem polícias ali estavam,
sem pingalim nem boné,
mas um volume no bolso
que bem se sabe o que é.
Na boca de cada um,
pendurado um lamiré
e nos olhos todo o olhar
felino, fino do chefe.
Ninguém podia explicar,
ninguém podia entender
que, em duzentos olhos, só
um olhar pudesse haver.
De repente no salão
que havia de acontecer?
Como se fosse um relâmpago
ou o diabo por ele,
fez-se ali um jorro azul,
e começou a azulescer
e ficou tudo azulado
os reis e roques até.
Mil pessoas aí estavam
que ganhavam nova tez.
Zul, azul azulejava;
"Sobeja cousa de veer"!
Só no fundo do salão,
com os pulsos a tremer,
um jovem roía as unhas,
não parava de roer.
"Que faz aí, seu intruso?
Como se pôde atrever,
sem as vestes nupciais,
a quedar neste banquete?
Rua!, rua!, seu intruso!
Que descaramento é esse
de nem uma flor azul
ter ao menos no colete?!"
Prenderam-no, açoitaram-no,
deram-lhe fel a beber
e uma cruz de sete metros
mandaram logo fazer.
Entretanto o rei fulgia
e os demais, tal como ele.
E as estrelas não caíram
e o mundo não se desfez
e no firmamento o sol
prosseguiu no seu arder.

Este é o romance do rei
(irreal, está-se a ver).
Quem quiser tire a lição,
tire a que lhe convier.

António Cabral, in Quando o silêncio reverdece

Como dizia Fernando Pessoa, depois de lamentar o "nevoeiro" em Portugal: "É a hora!..." Enquanto sim e não, e agradecendo ao poeta esta chamada a uma outra realidade, decido ir ver o sol lá fora e passear um pouco nesta bonita tarde de fim de Outono. Lá fora é castanho e ouro e muito verde ainda... "É a hora!"

sábado, 6 de dezembro de 2008

Vieira avalia Pinóquio...


"Quem em tudo quer parecer maior, não é grande."

"Os modos de guerrear são tantos, quantos tem inventado o amor para a defesa própria, e o ódio para a ruína do inimigo."

"Posto que os juízes sejam rectos, ou o queiram parecer, é tal o enredo de testemunhos falsos, induzidos, e subornados, ou com o dinheiro, ou com o ódio, ou com o temor, ou com a dependência, ou com a lisonja, ou com tudo, que a mentira é a que vence e a falsidade a que triunfa."

"Se nos vendemos tão baratos, porque nos avaliamos tão caros?"

Padre António Vieira, Sermões

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Avaliação de Professores e "Legitimidade Democrática..."


Isto é um problema!... Eu que até gosto do ex-presidente Sampaio, tive hoje de o ouvir defender o Ministério e a sua actuação com o argumento da "legitimidade democrática" que pôs o PS no governo. À laia de desabafo, há duas perplexidades (preocupações?) que me obrigaram de novo a escrever:
- Será impressão minha, ou quando grandes dirigentes do nosso país começam a trabalhar no "estrangeiro" ganham uma nova forma (mais conciliadora de "Deus e Diabo em comunhão") de análise do processo político em Portugal? Acredito que "lá fora" seja outra a realidade, mas um pouco mais de tempo de permanência em Portugal e não creio que se aguente durante muito tempo esta "bonomia de análise"...
- Será cansaço e receio meu se este argumento da "legitimidade democrática do voto" permitiu por exemplo o acesso do nazismo ao poder e a sua manutenção (contra aqueles, inclusivé, que o tinham legitimado pelo voto)?...

(E, por favor, chega de especulações e mal-querenças, que eu não chamei nada a ninguém, etc., etc.... Que cansaço, todos esss atropelos de linguagem e raciocínio que por aí se vão fazendo...)

- Não decorrerá da "legitimidade democrática do voto" que, quando os eleitos, por se afastarem dos princípios ideológicos que os consagrou no governo da Nação, são "democraticamente" chamados à atenção (por manifestações, por exemplo) devem democraticamente recuar e, em nome desses princípios e de uma "pedagogia de poder" social, alterar as suas propostas de governação? A não ser assim, correríamos o risco de, um dia destes, sermos governados por uma "ditadura democraticamente eleita" e há que aprender com a História, em nome da Humanidade.

http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?headline=98&visual=25&article=376406&tema=28