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domingo, 25 de maio de 2008

D. Junquilho e Violeta



"- À beira do rio nascem

violetas ao comprido,

já me vieram dizer

que não queres casar comigo.



- Eu, casar contigo, sim,

mas por ora ainda não.

Amanhã, por estas horas,

te direi o sim ou não."



- Hoje é o amanhã de ontem

e já cá te vim buscar.

Trago-te um anel de junco

e uma coroa de toucar...

é juncada de violetas,

"há-o-as" roxas e amarelas,

p'ra que as doces borboletas

venham aqui rimar com elas.

Rimam as cores e os cheiros

e é sempre a Primavera

que te desenha sorrisos:

ficas igualzinha a elas!...


Eu, casar contigo, sim,

que me sinto borboleta

p'ra namorar o teu corpo

rescendendo a violeta.


-À beira do corpo nascem

violetas ao comprido,

já me vieram dizer

que já queres casar comigo...

Tens aqui o teu anel

também de juncos tecido

e um belo cinturão

remanescendo a junquilhos.



... Pôs-se o sol, foi-se sorrindo,

deixando mais um casal

embrulhadinho nos cheiros

do quentinho nupcial...



... E agora onde estarão

D. Junquilho e Violeta?

Já me vieram dizer

que "na brasa, de lambreta"...

quarta-feira, 21 de maio de 2008

O Amor e o Tempo



Duas flores.


Dois sonhos de magia.


O amor-perfeito do além as faz crescer em harmonia.






Três pétalas já no meu sonho de florir. Sou um auspício de rosa.

De vermelho me teço e pela alegria cresço.
Sou Mulher.


No cálice tenho a força do sorriso. Sou verde e digo esperança.
Conservo a criança.


No pé tenho o sustento que me alimenta. Verde também;

mais escuro, se diz futuro no acúleo da rosa: uma protecção
Me é a mão, em folha ausente.


Na terra que alimenta as raízes, o insondável mistério do Amor:
invisível ao olhar, é o mais terno.



Só da água que recebe se alimenta
e doa em flor.



Três laranjas no meu laranjal.
Dois sonhos só.
Um único verso na magia do universo.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Ao patinho amarelo de laço azul que a minha mãe ofereceu no "ramo" de S. Pedro ... e aos patos, que também os houve, no quintal lá de casa...


VERCINGETÓRIX E CLEÓPATRA

Introdução


Velha guerreira de estradas,
cortadas a pique algumas,
foi um dia a vossa amiga
transportada para o campo.
Na cidade, não floria
a não ser em pensamento.
Pelo campo progredia
e em silêncio sonhava.
Com as estrelas por dentro
que a vida vai revelando
ao longo do nosso tempo,
foi pata-choca também.
Quis florir em muitas histórias,
mas foi só pela Magnólia
mais velha do seu quintal
que um dia se apaixonou.
Junto a ela serenou
e este livro vos trouxe
para do Amor falar.
É por Ela que vos fala,
pela árvore florida e bela
que todos nós já plantámos.
É sempre uma avó serena
a que nos reconta a história
da vida que nos habita.
Traz segredos de família,
velhos baús confiscados
ao reino da fantasia.
Traz a magia do canto
no berço que nos embala
e traz no conto outro tanto
do amor que aqui nos fala.
Fala de patos a história
e só de patos se fala?
Não me parece, senhores,
que o reino da fantasia
é trespassado da luz
das estrelas e da lua.
Traz velhos sonhos das gentes:
um pouco de paz, sossego;
novas raízes apensas
aos livros que já vivemos.
Por dentro de cada uma,
um velho mito a perpassa:
mergulha fundo no tempo
e só em cada momento
um gesto breve a desenha
.
Fica p’ra vós e p’ra mim
a história deste casal
de patos que, por sinal,
nos é família também.
Cada um com seu sonhar,
com penas várias também,
vai desenhando por dentro
o sentido que ela tem.
Se és só jovem, te enobrece
a leitura que aqui fazes;
se és adulto, tens a sorte
de não teres perdido a arte
de seres tu jovem, também;
se és só Mãe e fores D. Pato,
nestes casais que hoje há cá,
com um pouco de harmonia
a podes tu solfejar
à criança que trouxeste;
se Mãe és e D. Pata,
dessas mães que ainda há cá,
tu lhe trarás a memória
das nossas Avós também:
Nossas Senhoras do Bem
que, pela calada da noite,
nos revelam nas canções
de embalar e outras rimas
a velha barca da sorte
onde à noite nos aninham
p’ra podermos descansar.

Dorme o filho, dorme a mãe
e dorme o papá também...
que o que segue é de embalar.


1.

Quando regressei, a pata-choca tinha sido trocada por Cleópatra. Leve e airosa, com o rabinho a-dar-a-dar, lavou-se na manhã breve com o perfume das rosas que floriam. O sono lhe fora feitiço que toda por dentro a lavara. Lenta e com donaire, sobressaltou-se pela primeira vez: junto a si, com uns remos de marialva listrados em abandonos de cor, o velho guerreiro-pato cheirava a última rosa crescida no abandono das rosas do seu jardim. Foram dois olhos profundos em lagos emersos, imensos que, num repente de amor, lhe trespassaram a dor do seu marido perdido.

Vercingetórix, o velho pato guerreiro, regressara mestre: amestrado e serviçal, servia de ora em diante com as plumas de pavão que, em sossego de amor, lhe tinham listrado a bela e sempre reluzente plumagem. Com o ardor do olhar ainda na garganta e um quáquá de olvido ainda na retina, o senhor D. Pato, agora “gentleman”, fora benquisto aos olhos da sereia, pata lustrosa e amena que se espreguiçava, preguiçosa e dengosa, pelos areais do prazer. Velha pata, sem brios de ser jovem ou pata-gansa (que longe iam os seus tempos de guardadora de quintas), atreveu-se a um sonhar: se ele me trespassa e eu o solfejo, porque não há-de o trespasse de música nos ser enleio?
Assim já sonhados, partiram para o leito em penas guardado.
Com o sonho de pato e o Dom de Cleópatra (ora bem mais simpática), foi-se o pato à pata e em sossego lhe debica a breve peninha toda. Toda e tonta. Tonta de sonho e de enlevo, a D. Pata Cleópatra, dona sereia do lago, limpou-lhe logo os maus tratos e trouxe-lhe a ele o filho. E olhem lá o peralvilho deste filho de mãe-pata que, ainda breve no ninho, já não é no seu soninho senão um cristal da mãe: nele se revê e canta, por ele toda se encanta, por ela reza também. Quando o vê rezar a ele, todo por dentro sonhado em sorrisos de aconchego, mãe pata-mole e doceira (que toda ela é pão-mole ao olhar p’ró seu rebento), se lhe levanta o quebranto e o faz florir em histórias. “Que vai ser do meu rebento? E do meu sonho por ele? Vai ser ele pato-choco e sair ao seu avô ou como guerreiro cresce e me aconchega de novo a memória do papá?... Se eu pudesse só tecia de sonhos este meu livro... Olho p’ra ele, enterneço; como mãe-pata esmoreço e só o sei desfolhar... No rosto do livro cresço, pela capa me sustenho e lhe sonho a contra-capa, logo, logo a debandar para as gravuras ...”
- Quá, quá, quá! Posso entrar?
- Quá, quá, entre, por favor!

Entra agora Mãe Magnólia, que é florida duas vezes: duas vezes foi sereia e duas vezes mãe-pata. Por isso lhe chamo avó e agora a trato só por Vóvó do seu D. neto.
- D. Neto, sou eu também – diz o menino traquinas que esta história nos escuta. Posso ser também com ela, D. Neto forte e airoso?
- É que eu quero ter um pato – diz o menino traquinas que esta história não olvida.

Se a ouvires com atenção,
à velha história da pata
mãe Cleópatra o fará
e talvez até te traga
um outro conselho novo
com que poderás florir
durante a noite o teu sonho.
Vou sonhar contigo, agora,
a nossa história de patos
que da Mãe é e do Pai
e de todos nós também,
que os amamos e trazemos
para a memória das gentes
que aqui foram já sonhados
como dons patos parentes
de todos os que aqui estamos...
Bom, vou florir mas é a história,
senão parto sem memória...

- Conta lá!
- Aí está!


3

Era uma vez um voo de patos
que dentro de um prato
um dia voou...
voou p’rá Sibéria
-ou foi p’rá Mongólia? -
Mas se foi por Magnólia
que ele regressou!...
Magnólia era árvore
e bela senhora,
com todo o amor
das tristes donzelas
que em pratos se sonham
em voos de azul...
Por isso era avó.
E foi num “frisson”
que um dia chegou,
pelo manso da tarde
pergolada em flores.
Pela sombra rasteira
do final da tarde,
um dia chegou.
Chegou e contou
ao neto patolas
as velhas histórias
da sua família.
Duas eram belas
e nelas guardou
o voto de amor
que às madres se doa.
No livro as escrevo
e as guardo também,
p’ra que nunca à Mãe
falte o abandono
do sonho tranquilo
que no filho vem.

4

Pela primeira delas, um dia contou do raio de luz que lhe fora prece: é que o seu filhote, dom pato feliz, já fora traquinas e igual ao pai dele e, como guerreiro, o papá progredira. Um dia chegou com as armas cansadas e o bico de pato de novo açaimado. Dizia-lhe então, com tristeza já, que nunca assim cá olhar podia o raio de luz que a avó lhe trazia. Já farto e eu farta do charco das patas onde ele se vinha, p’ra ele me vim e lhe demandei:
- Queres tu ser pato?
- Sim...
- E queres ser feliz?
Que sim e que sim, que feliz queria ele ser, enfim.. – recontava ao petiz, a vóvó Magnólia em riste. Toda ela em sol-pôr lhe surpreendia o amor nos olhos e nos ouvidos, que bem atentos p’ra si a marchetavam de flores e de voos de andorinhas.
- Diz lá então só p’ra mim! Quis ser feliz o petiz?
- Quáquá si, vóvó-madrinha!
- E pela rota do sol que traz ele no lençol?
- Lá fá sol... lhe traz pão-mole!
- E pelo reino do boné, que traz ele do Cais’Sodré?
- Fá mi ré... buédaparlapié!
- E pelo voo da vóvó, que traz ele no pópó?
- Mi ré dó... Não tem ainda pópó, vóvó!

E foi assim que um dia
o viu a vóvó-madrinha,
todo inchado pelo vento,
transportar-se em pensamento
p’las migrações de lamentos
que os outros patos faziam:
se no tempo ele ancorara
e o pópó não conduzia,
pato feliz não seria!...
Quis um ninho: construiu – o;
do pópó já se olvidava
- (é que há um pato feliz
em cada voo de sonho
e só por ele avançamos!) -!
Tranquilo já e contente,
foi assim que ele aterrou
na pata-choca de antanho,
mais florida, mais sabida...
e assim a governou
à barca da sua vida.
Hoje é um sonho de pai,
mestre já na sua estrela:
pelos ombros de gigante,
de onde o petiz nos espreita,
se devolve em harmonia
à sua própria magia
e à do tempo que se deita
descansado em seu viver.
Vive a vida pela mulher
e nos seus ombros se deita;
pela criança sorri
e é sempre pelo tempo
que se acasala também.
Pai hoje é, filho será
e nessa sombra repousa.
Por dentro de si a luz
que nos dá em cada dia
o raio que nos ilumina
e alimenta o tecer
de cada segundo exacto.
Regressa teu pai também
pelo velhote traquinas
que neto é desta avozinha
que o ama pela história.
Se ele te é um raio de luz
por que eu te possa puxar
p’lo reino da fantasia,
é porque te é alegria
leres e ouvires a história
daqueles que te fadaram.
Teus pais foram e felizes
e só porque se olvidaram
de si um pouco também,
te trouxeram e se encontraram
por dentro deles também.
Tu lhe és um raio de luz
da estrela trazida aqui,
pela qual tanto se amaram.
São teus pais. Se os amares,
neles tu lerás um dia
o resto que aqui não cabe.
Há quem lhe chame Saudade,
outros só uma nostalgia,
misto de sonho e de olvido,
futuro trazido em flor
para as memórias desta vida.





5

- Então diz lá, meu patinho, patolas de mãe Cleópatra, patachim da sua avó!...
- ...
Eu sei!... Eu sei que a mãe é megera
e te traz às vezes dores...
Vem cá, patachim das flores,
flor-de-estufa dos amores
que às vezes encontro aqui
todo inchado da magia
que as novas espécies florais
te trazem com a ventania!...
Quando eras só um bébé
e a avó aqui morava,
durante toda a infância
dos versos que aqui cantava,
eu era bem mais feliz.
Tu tossias e eu xaropava
e logo o garoto tossia
cada vez menos tossia.
Ao filho trazia sempre
a guarida duma couve
que alombardava a criança
ou então pela cegonha
que de Paris imigrava
se retesava o lençol
que o aeróstato desenhava.
Vinha a criança dormindo,
toda em versos retecida
e pelo sono vencida.
Eu era só a avó
e p’la calada da noite
vinha à noite serenar
os votos do meu D. Neto.
Era só uma historinha...
ou uma canção de embalar...
e lá vem o seu sonhar
p’la segunda destas histórias!


6

- Olá, Tritão, como vais? – diz pata-sereia ao pato.
- Quáquá vou... e tu, também?

Porque o ovo não chocara
e o tritão a libertara
do seu voo de passarola,
pata-sereia bem triste,
convidou-se para jantar
e desapareceu no ar,
para entre céus despertar
um voo que rumo lhe desse.
Como gansa, fora mãe,
mas tristonha prosseguira,
pois só lhe rondara a Quinta
outra pata traiçoeira
que ao amor não conhecia...
ela era bela e benquista
lá na quinta dos patrões,
sempre mansa e amistosa
p’ra quem benquerer lhe queria.
Como sereia foi bela
e sempre o sonho lhe deu
um esteio de pato-cisne.
Pato-Tritão fora o único
que a ela concebia
como uma da sua espécie.
Se ela era preguiçosa e dengosa
e pela esteira dos dias
em pata se rebolava,
ele era feliz e triste,
porque o mais triste dos tristes
dos patos-gansos de outrora
lhe confiara a doutora
peninha com que os doutores
ainda hoje se escrevem.

- É doutor meu puro-sangue, meu cavalinho-tritão, meu ganso arcaico celeste? – diz sereia já no choco, que ao tritão devolve a mão.
- Eu sou doutor e doutora, sou tritão e tu tritona; se me escreves em sereia por dentro do teu servir, eu te ofereço um desastre que a nós dois há-de servir. Tu vais servir para o céu das patas-chocas também e eu, por celeste olvido, cá cofiarei a pena com que aos outros desafio a olvidar a sereia... ou seja, pata-choca tu vais ser e eu no choco vou servir. Queres tu assim progredir?
Pata-sereia dengosa, ultrajada no seu trato e nas penas que sofria por amor de seu D. Pato, lhe ofertou em casamento um bolo-rei já servido aqui e em outros lugares...
Pouco durou o desastre do cavalinho-tritão com sua triste sereia.
Já no chão e bem na Quinta, junto ao lago onde mirava o seu velho olhar de pata, pata-dengosa recolhe pelo orvalho da manhã uma estrela de amizade.
- Eu sou pato e sou guerreiro e tu quem és, ó Senhora, velha dona dos meus sonhos?
- Em sonhos te vi eu já. Eras tu que em tritão te olvidavas de mim e em mãe me resolvias.
- Tu no choco e eu ... malvasias!...
- Meu velho tritão sangrento que tanto mal ofertaste às patas desta nação!...
- Eu sou um velho tritão? Mas eu não passo dum pato. De um pato-cisne não venho que em riste me vi eu já sem um sonho de alegria... Cantem eles em agonia que eu prefiro viver cá, que só pelo choco me venho.
- Eu cá Mi canto em quáquá... e tu, quáquá sonhas?
- Quáquá, Si. Eu te completo e é contigo que eu rimo.

Ela- Dó Ré Mi...
Ele- Eu pedi
Ela- Mi Fa Sol...
Ele- um pão-mole
Ela- Fa Mi Ré...
Ele- p’ró café
Ela- Mi Ré Dó...
Ele- da minha avó.

Ele- Dó Ré Mi...
Ela- A Mimi
Ele- Mi Fa Sol...
Ela- pelo sol
Ele- Fa Mi Ré...
Ela- vai a pé
Ele- Mi Ré Dó...
Ela- não tem pópó.

Feliz por ver, finalmente, o seu casal de patolas cantar a mesma canção em véspera de acoplamento, velha Magnólia pressente que chegado é o momento de ela própria cantar o hino do casamento, de ela própria ofertar o livro do entendimento...





Rasga Magnólia pelo céu
um tremeluzir de estrelas
que às crianças dá sossego
e aos jovens muito espanta.
Nunca nele se decanta
o verso exacto ou menor:
vem ele de pé-quebrado,
venha ele aqui luzir
e se ao velho som decanta
é ainda pelo cristal
de sonho de cada um
que ela vem aqui sonhar.
Traz presentes para a gente...
- Patos-bravos eram eles,
que hoje me estão em sossego...
Versos querem? Mais ainda?
Escreve, poeta, o que se sentes
e mais se te canta ainda!
Filhos querem?
Patos, de orgulho rebentem,
que o patolas veio enfim
e se juntou aos meninos
do coro da sua avó,
p’ra lhes cerzir a memória!
Venha lá o Dórémi
que eu cá faço o Mifasol;
tragam-me lá o Pão-mole
ou o Monólogo do Vaqueiro,
que o resto reteço eu cá.
Trago p’la estrela da sorte,
o velho Dom das sereias
e só pela “patoleia”
lhes falo eu em Cleópatra
ou no guerreiro intranquilo.
São patos e querem ser
felizes até ao fim.
Tragam-me lá o jasmim
do filho que vos encanta
e vo-lo trepo em garganta,
até que seja canção.
Se ele me foi patachim
e hoje me é coração,
é porque a sereia aqui
mais não é do que o enredo
das filhas desta nação.
Mulheres são e patas-chocas:
algumas delas cá estão,
bem prontas já p’ra florir.
As que a sereia florescem,
mais não fazem que cantar
e pelas cigarras de antanho
se encontram a formigar
p’las paredes em que trepam
os homens a debandar.
Se são tranquilos debatem
com os filhos o seu sonho,
se ao sonho curtem somente,
mais filhos são que parentes
da pata-choca que os trouxe
e lhes alimenta o ventre.
São meus filhos todos eles
e todos florescem aqui.
Sou pata-choca no choco
das estrelas da nação.
Pela varinha de condão
trago o sopro que enobrece
o sentimento de amor:
pelo choco o enobreço,
pelo filho o enalteço
e pela Mãe o revelo.


7

Como viram, meus senhores,
sou Mãe, sou Pai, sou Avó
e sou a Filha também.
Trago sempre nesta história
de patos que aqui hoje há,
um retrato da nação
constelado em Angsoka.
É planta “mirabilis” esta
que já me vem da infância:
terno voo de andorinha
sossegado na criança
que todos somos, enfim.
Trago um laço de cetim?
Um conto de amor o traz...
no gesto breve do sonho,
enlaçamos nós a paz.
Pela ternura das mães
que aqui vivem e sustentam
os laços de amor total
que nos reune em abraço,
somos a roda do mundo
virginal que aqui sonhámos.
Um só laço, um só sonhar...
num abraço repousar...
para partirmos depois.
Partimos sempre em viagem
pelo tempo que nos é
história viva e amansada...
lua nova, traiçoeira,
não se açaima pelas marés
da noite onde se espelha;
vive do lado de cá,
a sombra mágica dela:
se a sonhamos, a vencemos,
que os medos fátuos do além
nos devolvem o abraço
para esquecermos o cansaço
que ela nos traz também.
Pela luz com que a sonhamos,
nos devolvem as estrelas
da nossa sorte, afinal,
tudo o que é do luar
já mais sossegado cá.
São Senhoras que as habitam
e por Elas nós rezamos:
veios de Amor As conduzem
aos nós do nosso sossego.
Aqui nos trazem a Mãe,
que nunca outro Dom contém,
que o de ouvir e o de contar
e a rota iluminar
dos filhos que Ela aqui tem.
Por Ela somos felizes
e nos iluminamos também.











Vitória, vitória!... Acabou-se a história!

Para todos os patos, patolas e patachins
que espreitam no tempo um raio de luz,
vos deixo um babete, vestidos, brocados,
todinhos bordados com o meu ponto - cruz.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

CANTIGAS DE AMIGA

Rimance 1

Três voltas dei à tua saia nova
Três voltas dei e não me dão volta

Senhora florida, do meu coração
Teu seio me afunda em tanta aflição

Sonhei-te envolta em flores de alvura
Sonhei-te a ternura...

Quis ter-te por dentro de mim consagrada
Foste a minha amada...

Rimance 2

Três voltas tem a tua saia nova
Três donos já teve e não me faz moça

Floriste-a de novo, todinha para mim
Coseste-a com flores... te dei o cetim

A uma prenda bela nunca se diz não
Que ao coração da noiva florida
não vem o carmim, mas sim o despejo
Da fruta colhida...


Rimance 3
As nozes do cesto que me ofertaram
Já todas grelaram...

Bem as quis florir ali no jardim
Mas foram-se assim
que os grelos chegaram...
Lá se me ocultaram as nozes de mim !


Rimance 4

Quiseste comer a fruta mais doce
Morangos te dei...
Beijinhos de outrora que um dia me deste
Porque tos não dei?
Se um dia as amoras do teu silveiral
forem todas doces...
com uma compota te acolherei.


Rimance 5

Meninas solteiras se sonham despidas
À volta das avelaneiras floridas

Despidas das mães que às romarias
as levam velidas

Sonhadas pelo ventre que a alegria acolhe
a brisa as recolhe

Lavadas de novo nas camisas alvas
as espreita a alba
e a harmonia.

Rimance 6

Seu sirgo torcendo, em voz de harmonia
voava a amiga...

- Pardeus, meu amigo, que sonho antigo
te voou de mim?

E uma voz de espanto lhe segreda então:

- Avuitor comestes, que as asas de mim
Para ti não são...


Rimance 7

Estando eu contigo e tu não comigo
olhei para ti nas ondas do olvido...
Amigo traidor serias então
ou era a angústia do meu coração?

E as ondas bramindo em São Simeão
ficaram dormentes, disseram que não
que a verdade alheia que às ondas regressa
não regressa nunca para o coração...

Foi-se embora o mar. Ficou o olvido
e as ondas bramindo em São Simeão
são sonhos de aflitos, que em terra firme
estreitaram a amiga do seu coração.

domingo, 18 de maio de 2008

O meu "João Ratão e Carochinha"

Era uma vez dois gatos felizes
e velhas matrizes dos contos de fadas:
Ratão e Carocha, assim reza a história.

D. Ratão, velho ninja de ratos, tinha com a história velhas contas a ajustar...
Farto de ser ninja de ratos, transformou-se em samurai:
aquela velha ratazana, gorda, nojenta, cruel que só vive de dejectos e em velhos canos de esgoto, era quem o atentava... zás, catrapás, trás... e era assim que a matava.
Em casa tinha comida, água fresca sempre pronta e uma casa-de-banho hermeticamente fechada aos cheiros nauseabundos que tanto ele detestava. Aqui, só ia e vinha:
ZZZzzz... areia p’rà frente, areia p’ra trás, covinha no meio... já está! Tapar, tapar com
areia... que é a terra que lá há...
Era pois já D. doméstico. Velho Ratão aprumado no seu fatinho de gala, com as pernas bem esticadas, viajava pelas ruas e p’los campos que cá há! Sempre todo perfilado, de coleira a retinir, ela vê-lo repetir todos os dias a velha história de gato educado: é um carro que ali vem... “pára, ouve e olha sempre e só quando pressentires que já não há mais perigo, é que atravessas então”... era assim o João Ratão.




Sobre a Carocha felina, muito tenho p’ra contar: da raposa, tem o olho e a sabedoria de instinto que a levou a adoptar como mãe o João Ratão. É que esta gata Carocha tem de menos oito meses que o irmão João Ratão (que o foi de mãe, pois então!)... Ao olhar o João Ratão, tão meigo e tão samurai, não é que não viu o pai mas a mãe que lhe faltava!... Era só uma Carochinha de três semanas ainda...
O Ratão, bem mais felino – e doce, que os gatos o são também -, deu-lhe a pata p’ra mamar e a Carocha aproveitou. E era assim que dormia e, enrolada, adormecia no colo do João Ratão. Cresceram logo irmanados e quando a um acontecia ter de ir ao veterinário por qualquer coisa que havia, logo o outro em seu redor lhe aconchegava as feridas: lambidela... devagar... massagem de amor... também... e eram já dois irmãos que a vida quis juntar!
Para gáudio dos meninos que aqui me estão a ouvir, fiquem p’ra já a saber que estão bons e de saúde e se amam tal e qual como samurai e donzela... Ela é meiga; ele, outro tanto. Se um ronrona, o outro cala; um refila e é a dona que lhe dá logo resposta: “Calado, já! E beijinho... aí na sua gatinha que é a mais bela companheira que cá lhe pude arranjar”... E não é que eles se calam e tecem logo beijinhos e cadeias de ternura e ronronam de mansinho e arrulham e arrulham... É uma alegria p’ra mim Ter cá dois gatos assim!
Houve um dia, aqui há tempos, que tive de os mandar castrar. Chorei muito... um inferno... ver dois gatos passear pelo corredor da dor (é que a doença é feroz, tão selvagem e dolorosa, tão nos corredores da morte que a única boa sorte que podemos desejar é que o tempo aqui actue e os salve da doença...) A doença lá passou e a dona serenou e o gato ronronou... com saúde e muita fome, ficaram ainda mais fortes.
Houve outros dias também de dor e de incertezas:
Vem o gato p’ra dormir? Está calado... estará bem? Não quer festas ... não ronrona... não diz nada... está zangado... já fugiu da sua dona... e foi “prender o burrinho” ali p’ra baixo da cama...
Está bem! Olha, paciência! Quando lhe passar a dor de Ter de ser educado – não p’la dona, mas p’la rua, onde também é ensinado – talvez perceba depois!... É que os gatos e os meninos são mesmo iguais, iguaizinhos... Querem ver outra?
“Quantas vezes eu lhe disse, ó sr. João Ratão, para não confiar em cães, nem em donos de outros gatos, nem na noite tão sozinha só povoada de gatos, mas de gatos tão vadios que só o insultam também? Hein?!... Não fica melhor em casa? ... Quer papas? Vou-lhas buscar!... Quer dormir? Vá passear pela casa, seu malandro e veja lá se adormece!...”
Esquece então o seu “rato” e o velho cão vadio e os velhos ninjas de gatos que gritam noites a fio a imitar as crianças, chorando pela noite fora... e lá se aconchega no sono.
Há tempos ouvi a história destes meus gatos felinos, contada como em passado a avó contava aos meninos:

“Era uma vez / uma linda Carochinha / que encontrou 7 reis / quando varria acozinha…
(…)
Ai Coitadinho do João Ratão / cozido e assado no caldeirão!”

Eu já podia ser avó e gosto de escrever contos para os meninos encantar… É que eu tenho uma criança aqui guardada no peito que fala sempre, certeira, ao ritmo do coração... Vivo feliz e contente e porque tenho dois gatos que são os mais educados e os mais belos que existem no mundo e no universo, é que eu hoje decidi reescrever aquela história recontada pela avó...


Oiçam lá! Acham bem aquele final? Mas que grande caldeirão, mas que grande caldeirada, mas que grande marmelada que ali puseram de propósito só p’ró pobre do Ratão lá mergulhar, coitadinho, e deixar a Carochinha toda chorosa no altar!... Acham isto bem? Digam lá!... Eu não. O meu gatinho Ratão e a gata Carochinha só gostam da comidinha que é própria dos gatos já... e felizmente p’ra mim, senão andava p’ra sempre com o meu pobre coração a espreitar o caldeirão sempre que o gato fugia ou decidia dormir aninhado na Carocha, lá no sótão onde namoram... Cá p’ra mim já lhes sonhei o final da história: “casaram e foram muito felizes”, que é assim que eu gosto dos contos de encantar.



E a propósito de encantar... Conhecem o “Gato das Botas"?




















É primo do meu Ratão... também gosta de ajudar e como devem saber fez mais ele pelo dono que todos os seus parentes: com as botas, fez-se um homem; a falar, fez-se um farsola e porque sabia sempre aquilo que precisava, inventou o seu Marquês e por matar o ratinho do medo que lhe causava o ter de viver sozinho, enfrentou com dignidade a sua bela princesa, casou com ela e viveu a sua história de gatos. Dizem que foi um nababo nos anos que lhe sobraram. E digam-me lá vocês qual deles era mais gato? O próprio gato das botas, com botas humanas calçadas ou o “gato do moleiro”, tão marquês de Carabás na sua pose de príncipe que ronronou casamento logo à sua “Carochinha”, à princesa do Ratão? Qual dos três gatos preferem? Escolham um ou então os três.


Miaouhs e ronrons para todos os meninos e xis do coração também...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Uma História da Quinta do Conde...





I - ONTOLOGIA

No princípio, era a Terra.

1. Passiva e amena, a terra floria, como em primeiro dia. Sonhava-se em flores, em cheiros, em ternuras... e pela brandura das tardes soalheiras é que adormecia: o tempo era eterno.

2. Florida e amena, a terra sentia o amor do humano. Amada e feliz, a terra sorria... e não é que paria como em primeiro dia? Tubérculos e frutos, mui pássaros, ginetas e lebres, coelhos e néctares de flores que ao homem sorriam.

3. Obeso e feliz pelos frutos da terra tão fáceis ali, criou espingardas: matou javalis. Sonhou as distâncias: pôs marcos aqui... e ali. Expulsou a gineta e a alegria: roubou javalis.
Floria a terra? Mesmo assim, floria ali.

4. Na tenda ao luar, criou os seus filhos: gritavam ginetas... gritavam nos sonhos e nos pesadelos dos homens de ali: morrera a alegria e o velho homem não sorria ali. Sonhou uma casa: com quatro paredes, telhado em oblíquo, lá dentro uma cama. E veio o sossego para o serenar. O humano sorriu: “Deus é bom.”

5. E ao quinto dia, sonhou com a esposa o trigésimo filho. E porque galinhas não havia ali e porque a esposa suava, suava, se domesticou. E foi então que casou o seu medo da gineta com a Quinta que o cercou: ficou D. Conde de tal e geriu no seu perímetro a corte de trinta filhos, azagaias, zagalotes, alfaias e mui dichotes e rixas que há entre irmãos para disputar o pão que ao pai sobrevivia. Quanto à mãe, ia sonhando pelo destino dos filhos... e era a Terra que floria.

6. No sexto dia, tossiu... pigarreou o humano: mas será que eu sou só D. Fulano e Beltrano, o primeiro em origem, e tenho só de parir mais trabalho, mais riqueza, para depois distribuir pelos pobres (que chatice!) e pelos filhos quezilentos, todos filhos do papá e do juízo da mamã e do sonho que os governa? Porra, porra!... – diz D. Conde e diz D. Conde pequeno, já mui farto de o ouvir: vá-se embora, ieramá, e deixe-me a mim florir nesta nova sociedade que aqui vamos construir... Pigarreou o humano, mas foi só pela criança que ele pôde subsistir

7. E foi no sétimo dia que tudo cá refloriu. Disse D. Conde pequeno que mais valia um dichote mal - parido, atrevidote que ensombrasse o papá, que a corte de ginetas que ensombravam a existência da corte calma e amena das flores que não pariam. Por isso as plantou ali. Regou-lhe o jardim dos olhos ao pai velho a descansar da labuta, do trabalho... Foi artista do descanso, pois só ao 7º dia completou o ser humano.







II - GEOGRAFIA

Por entre milheirais, voavam pássaros.


No arroio, ora deserto, as garças – irmãs do Tejo – sonhavam pelo sol-pôr miríades de raios domésticos. Fértil e umbrosa, a terra cheirava a novo: sempre doméstica, sonhada, arroteada por dentro no milagre de ser o que sempre nós conhecemos dela... fartava-se de sol e bebia da água sempre fresca que pelos veios da terra assomava como em fontes ou saltitante, perdida, se prolongava em cascata no caminho pedregoso que pela noite embalava o fácil sono, menino. Fértil e densa: de seios fortes erigidos em colinas, a terra era habitáculo dos deuses.
Lá longe, para lá das densas pradarias onde os cavalos respiravam sol e liberdade, havia o Tejo e a lezíria (extrema e às vezes dura, e era a Estremadura que por aqui assomava). Ao alto, sempre a Montanha, mãe de abrigo das ginetas que ao poeta encantava e por isso A cantava: mãe celeste, mãe de abrigo, mãe dos brejos, de oliveiras todas floridas em frutos e em velhas macieiras, nespeirais e laranjeiras, todas em dom de abundância: de água, sol e calor e oxigénio aos montes...

Na humilde quinta de um velho Dom senhor de terras e açaimes de cães, vivia o Homem. Fora um velho senhor ameno e suave no lento passar dos dias que escorriam em sonhos envoltos de passado: toda a família ali sonhara e sempre ali vivera. Conde da terra, senhor de grande auxílio e amor perpétuo à terra que os amara, vivia hoje na periferia da Quinta. Fora o acaso que o trouxera, ao novo rico da terra. Velho emigrante de paragens incertas, em sonhos de criança foi menino eterno: namorou a terra e sonhou-a em casas. Como senhor de terras, foi tirano: que sempre se despreza o deus que entrega por dinheiro o seu sonho de arquitecto. Das casas que sonhou em cogumelos, nem a raiz da terra conservou. Erigidas em presente, periclitantes, já não sonham o vento nas pracetas, nem as aves nas árvores que são delas, nem o canto do silêncio que enternece a pradaria... O passado morreu com D. Senhor das casas.
Em casa, na quinta velha, sonha ainda o velho mestre. Arroteia e semeia e tudo lhe é ainda dom: dom da bondade que sonhara, dom da quinta nova restaurada, dom do sonho novo que ocultava: “Por entre milheirais voavam pássaros...”. Humilde e bom, crê na terra que ora ama e por dentro dos sonhos de futuro vê cavalos na lezíria, estampando o sol dos milheirais no entardecer iridizante dos arroios. Vê têvê e vê o outro: o arroteador de dinheiro, o especulador pecuniário, o torcionário insurrecto, o ladrão de ecologistas... todos querem, mas não crêem... todos queriam, mas não criam... só pelo ouro labutam e ao veio negro da terra chamam preto e são suspeitos de ladroarem a terra que o especulador de dinheiro só lhes financia a crédito... Esta é a Quinta do Conde, a do homem que labuta, encaixotado e doente, farto de sol e cimento, gritado na pradaria em sede de amor e fé... Desligou a televisão, que já nem têvê se vê...
E digam, agora, senhores, que sou mais uma saudosista dos tempos desses arroios que semeavam de sonhos os nossos cinco sentidos. Olho para trás, vejo o vento e as searas floridas, vejo quintas e senhores que têm nos seus quintais as uvas com que alimentam a sede dos seus parentes... todos unidos, seguros, cantam no clube da terra, viajam pelo passado em bailes e romarias que as há (e ainda muitas) bem junto da nossa terra... E é deste nosso passado que ainda aqui é presente que tenho orgulho em falar, pois
“No princípio era a Terra”.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

No tempo em que os animais falavam...

















Olá, João, como estás?
Eu estou bem, ó meu homónimo!
Desde que tenho este nome
Que é meio-humano também,
Cá vou estudando e sonhando
Na minha escola do Bem
(e do Mal, que faço asneiras
e vingo-me às vezes das aulas
que a minha dona me dá!...)
Ouve lá, tu achas bem
Que sendo eu só um gato,
Não trepe às jarras com flores,
As não possa eu cheirar,
Nem a água lhes beber...
Nem pelas noites passear
E ir p’rá farra com os gatos?
Eu faço ver que não oiço
A minha dona, agastada,
E parto-lhe logo a jarra
Com a minha pata certeira...
Ela não gosta... “Outra asneira,
Ó seu grande malandrão...!”
Fujo logo, claro está...
E enquanto ela limpa os cacos,
Ponho-me cá a pensar:
Se eu também já sou João,
Porque hei-de ser malandrão?
E vou p’rá escola estudar.
Muito sério e sisudo,
Quando a dona está serena,
Aproveito o colo dela,
Faço ronrom e descanso.
Já sou um gato doméstico!...
Que nota me davas tu?
Dou-te cinco eu a ti...
Gosto de ti, pronto!

Um ronrom de pata e rabo para ti. Vens cá?
JOÃO RATÃO







Ó Nuno, gostas de mim?
É que eu sou tão traiçoeira
P’rós insectos, lagartixas,
Pássaros e até toupeiras,
Que a minha dona por vezes
Diz que eu não tenho conserto:
“É uma ratinha dos canos,
esta gata traiçoeira!” –
diz ela um pouco agastada,
porque me acha selvagem.
Gosto da casa, é verdade,
Mas prefiro saltitar
Pelos campos e telhados,
E até desafiar
Outros gatos e animais
Que por lá andam “descalços”,
Porque uma casa não têm,
Uma dona que os eduque
E lhes esteja sempre com truques
Para os trancar em casa,
Não têm eles também...
Sou alegre e bem-disposta,
Sempre, sempre a ronronar,
Passo a vida a pedinchar
Mais cuidados à “doninha”
Que gosta muito de mim,
Mas me dá tautau no rabo...
Eu não gosto, mas lá calo
E vou-me logo enfiar
Na roupa dela que está
Lá mais perto do telhado
Com que eu costumo sonhar!
Gostas tu de mim, ó Nuno?
Que nota me davas tu?
É que eu sou uma grande atleta
E mesmo que não pareça,
Sou já uma gata doméstica?

Um ronrom para ti. Vens cá?
CAROCHA


Olá, ó prima Ritinha...
Como vais tu, pequenina?
Eu sou a gata Carocha
E gosto muito de ti!
Encontrei umas calcinhas
Todas alegres, catitas
E trouxe-as logo p’ra ti.
Gostas delas?
Eu gostei...
Se as achares pequeninas,
Fico triste e infeliz...
Se grandes forem ainda,
Ficam à espera que cresças
E te enterneças por mim!
Se já te estiverem boas,
Fico feliz por inteiro
E só ronrono p’ra ti:
“Lá vai a gata Ritinha
que é tão bela e engraçadinha...”
como no conto da avó!...

Uma festinha da Gata Carochinha.







AGORA, ESCREVO EU, O GATO RATÃO

Então, ó flor Margarida,
Como está o teu jardim?
Eu aqui já tenho flores
E ando sempre a ronronar...
Caço bichos e aos pássaros
Também gosto de visitar...
Sabes que estou grandalhão?
Cada vez sou mais giraço
E desde que a minha dona
Me trouxe p’ra cá a Carocha
É um namoro pegado.
Gosto dela e ela de mim
E nunca estamos zangados.
Mas gostava que viesses
Um dia destes com a Rita
Visitar o meu terraço...
Sou muito feliz aqui ,
Mas queria conhecer-te...
A minha dona me diz
Que és tão linda e educada
Tão boneca de ternura
Tão sereia dos seus olhos...
Que eu quero ver se a Carocha
É tão linda como tu
Ou como a mana Ritinha.
Sabes que mais, Margarida?
Vem daí com a Ritinha,
O pai e a mãe também
E já agora traz também
O padrinho e a madrinha,
Mais o Nuno e o João
E eu ronrono p’ra vós!
Sabes que mais? Vou dormir!
Não, vou p’ró jardim
E caço por lá um pássaro...
Gosto dele... e tu, gostas de mim?

Um ronrom do Gato Ratom.

quarta-feira, 14 de maio de 2008



Um patinho alegre e feliz...

Um baú: o seu destino...

e a menina que fui ... adorava e adorou e , hoje, continua a sonhar e ... a adorar...

"Quanto ao nosso bom patinho,

aproveitando a lição,

a trabalhar dia a dia

vai juntando o seu milhão..."

Texto e desenho de Gabriel Ferrão