Ontem, na Sic notícias, pelas 23 horas, assisti a um debate entre 3 ex-ministros da educação (Fraústo da Silva, Marçal Grilo e Júlio Pedrosa) e encontrei finalmente alguém que fala de avaliação da única maneira que sempre a entendi. Perguntava Fraústo da Silva (que, talvez por estar mais afastado no tempo destas lides ministeriais, tem uma leitura mais desapaixonada, racional e humana): - "Mas quem é que não gosta de ser avaliado?..."
Bastou-me esta pergunta para de repente perceber a distância a que nos encontramos da escolha de uma carreira por vocação e da saúde e felicidade que se deve encontrar no trabalho que realizamos: já longe do "tri-paliare" latino (etimologicamente: castigar com o "tri-palio", um instrumento de tortura, feito com 3 paus), o verbo "trabalhar" assumiu no tempo um sentido de "serviço", socialmente dignificante e psicologicamente compensador (desde que assumido por "vocação"). E quem tem a felicidade de assim "trabalhar", gosta de ser "avaliado" pelo "serviço" que presta.
Eu continuo a achar que os professores sempre foram avaliados (academica e pedagogicamente, em cursos, estágios, acções de formação...) e que esta toleima cega com a "avaliação de
desempenho" mascara a "visão empresarial" do ensino e, pior, da Educação. Uma escola não é uma fábrica, os que lá trabalham não são parte de "uma linha de montagem" onde se produzem milhares de "carros" com variantes tecnológicas , estéticas e económicas adaptadas às "auto-estradas do consumo"... Caiu em desuso falar do objectivo (ou finalidade maior da educação?) que é: "formar cidadãos"... Educar para a cidadania é educar para a participação social lúcida e responsavelmente. E essa tarefa maior do professor parece estar arredada da consciência desta "aldeia global" em que se transformou a "sociedade mediática, stressada e punitiva" em que se vive ultimamente. Lançam-se boatos (mentiras) sobre uma classe social, desconsidera-se o seu "trabalho/serviço" (qualquer um sabe de Educação e Ensino, mesmo que não saiba escrever: é só ver os "comentários" às notícias na internet...), desculpabiliza-se os "enxovalhos" que lhe são feitos e fazem-se-lhe outros (esgrimindo argumentos "de rua" e apelando à "avaliação contínua" dos professores pela "rua"...). Como diz o povo "Vê-se o argueiro no olho do outro, mas não se vê a tranca no próprio"... E depois chovem "ovos" na Autoridade!...
Não há maior tristeza do que não sermos justamente avaliados pelo nosso "serviço" e... de "homenagens póstumas" devia a sociedade estar farta. Gostei de ouvir o Professor Fraústo da Silva: falou pouco, como se a sua razão viesse de um outro tempo e sentisse que não há ouvidos para a sua Voz.
E porque a cultura nos torna humildes e este é um combate que todos, humanamente, temos de travar, aqui deixo a reprodução de um cartaz desta manifestação de professores: quem o souber e quiser interpretar aí encontra também o que é o subtil exercício de ser professor. Obrigada a quem o concebeu e... ao professor Fraústo da Silva (que ainda há muita gente com "2 ouvidos e uma boca") e que agradecem aos seus Professores o nunca terem levado com "ovos" pela "rua"...
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