Na minha infância, deram-me como entretenimento e educação um exercício de português que nunca mais esqueci e que muito me tem servido pela vida fora; sem a pontuação correcta, o texto é um absurdo semântico, uma gargalhada feita frase: O lavrador tinha um cão e a mãe do lavrador era também o pai do cão
Tiveram de me dar a solução, que a tanto não chegava o meu entendimento / educação de criança. Mais tarde, aprendi a pontuar: quando percebi que a frase era uma estrutura lógica que reproduzia um pensamento arrumado... Desde aí, percebi que a chamada "gramática" era a "matemática da língua" e fui-me aplicando, treinando e divertindo com a infinidade (e provável infinitude) de sentidos que a nossa língua potencia. Gosto que Fernando Pessoa tenha escrito "A minha pátria é a língua portuguesa", mas gostaria que essa sua característica do Saber lhe conferisse também o Poder de nos dirigir... Por outras palavras, a face oculta deste verso de Pessoa podemos encontrá-la naquele outro de Camões onde, já aborrecido com os seus contemporâneos pela falta de cultura, vociferava que "... quem não sabe arte, não na estima" (e entenda-se "arte", claro, no sentido geral de "cultura")...
Como cidadã, aflige-me que a advertência de Camões não seja levada mais a sério! A menoridade a que a nossa língua aparece esporadicamente remetida, quando oriunda de altas instâncias do poder, faz-nos temer pelo estado da Nação, que corre o risco de mergulhar mais uma vez numa "austera, apagada e vil tristeza"...
E, já agora: o lavrador tinha mesmo 3 cães (o cão de quem se falava, mais a mãe e o pai desse cão)... Afinal, não se pode saber tudo e de tudo, mas há sempre alguém que nos ensina a encontrar a solução ideal ou mesmo correcta...
E agora dois exemplos desta "face oculta" da língua (ou da Nação de Camões e da Pátria de Pessoa?)
"...suspenção e não renuncia porque tal poderia ser entendida com assumpção de culpa."
"Caras e caros colegas
Faz hoje 4 Anos.
Tem dias que parece que o tempo se emaranhou nas coisas e nas pessoas.
Tem outros dias em que tudo parece ter ocorrido ontem.
Contudo há algo que o tempo tem os limites certos:
-Foram quatro anos bons de amizade, de solidariedade e de prazer de poder contar com o vosso profissionalismo e apoio."